segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Uma didática da invenção

1.
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:

a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

[...]

Por Manoel de Barros

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Comentário:

Esta poesia é apenas a primeira parte de várias outras sob o título de "Uma didática da invenção" de Manoel de Barros. Apalpar as intimidades do mundo é muito mais que escrever sobre coisas simples ou, como o próprio Manoel de Barros usualmente cita, as insignificâncias do mundo. É sentir.

Ao sentir as insignificâncias do mundo logo percebemos as nossas e, consequentemente, estas deixam de ser insignificantes e passam a ter um valor sentimental. Valor pessoal, subjetivo e, de certo modo, poético.

Paro por aqui e deixo vocês refletirem sobre estes princípios de como apalpar as intimidades do mundo e a pensarem sobre os seus próprios princípios.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

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