quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Poema alado


quando abri a porta
 do mundo
caí direto nos versos
 de Barros
onde a palavra tem
 cheiro
cor
vontade
desejo
mutação
imperfeição
nadifúndios

só não tem significado

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 17 de janeiro de 2010

Ó dor


a dor
palavra que sente

sobre o nosso corpo
ou mente

tortura o sabor
da vida
com um gosto acerbo

sensata
a pele repele
o líquido amargo

ardor?
não, só dor.

Por Rene Serafim - "Juninho"


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Versos de Barros


Poeta, s.m. e f.
Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu
Espécie de vazadouro para contradições
Sabiá com trevas
Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como um rosto.

(Arranjos para Assobio, 1982. Manoel de Barros)


Em versos transnominados escritos em rastos de lesmas
fico em estado de árvore quando vos leio
Apalpo as intimidades do mundo como o sapo (de barriga pro chão)
lambe a mosca no rasgo do dia

Agora em estado de pedra vejo o canto amarelo
e verde do passarinho vestido de luz
E o silêncio líquido que corre entre
dois jacintos escurece-me de poesia

A poesia? Não serve de nada
se não for para ser incorporada
Tenho profundidades em não saber quase tudo
sem saber que não sei nada

A água que corre nesse riacho
passou em forma de pássaro
no céu rubro da noite anunciada

E o cu da formiga virou-se para o mundo
e mostrou que as borboletas de tarjas vermelhas
quando em túmulos são mais bonitas

Nesse inutensílio que é a poesia
sou professor de agramática
e fazedor de significados que não existem

Melhor: dou ressignificações a palavras
que têm suas bundas viradas para o chão

Coloco cheiro e cor
onde só existia palavra

E como o esplendor da manhã
meus versos também não se abrem com faca

Por Rene Serafim - "Juninho"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Silêncio indesejado


a palavra
quando dita ou escrita
pode cortar

mas o silêncio
quando quer falar
queima
consome
faz um estrago.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O saciar das bocas


se nesse toque
as peles se encostam
enroscam
a sede das bocas
saciam
e
outra vez
gritam
num embaraço
de laço
que por ora
faço
com sua língua na minha.

Por Rene Serafim - "Juninho"