quarta-feira, 7 de abril de 2010

Teoria das inutilidades


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O silêncio líquido não comunga mais das coisas
nem mesmo das pedras.

As aves não querem mais migrar daquele lugar
largado às traças.

Os rios que nascem à montante não são os mesmos
que correm à jusante.

Quando a minha escrita está para o nada
nasce rabiscos poéticos.

Em lugares decadentes
qualquer coisa que se move se torna importante.

O cheiro da paisagem
carrega mais cor que o horizonte pintado na tela.

O nascer da flor não está na primavera
mas no outono quando suas folhas trocam de roupa.

Havia um menino que pensava ser árvore.
 E foi.

Durante o dia as coisas pertencem à luz.
À noite não pertencem a mais ninguém.

O delírio das coisas está guardada no quintal
de nossas casas.

Pegar na palavra que só comete suicídio
é mais prazeroso que pegar na palavra que só bate o ponto.

Pensando assim me formei cientista
das teorias das insignificâncias.

Por Rene Serafim - "Juninho"

4 comentários:

  1. "Escrever o que não acontece é tarefa da poesia."

    aaah, Manoel!

    belo rabisco poético esse seu hein?!

    havia um menino que pensava em ser Barros.
    e foi.

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  2. Manoel de Barros tá penetrando mesmo nos seus dedos

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  3. nu junim; só fosso dizer... treta, treta; essa bateu forte;

    lembra que estou compondo musicas q tem como titulo do projeto " elogio aos inutensílios"

    posso musicar isso?

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  4. Olá, Rene!

    É um prazer estar aqui, conhecendo seu espaço que tem poesias lindas. Parabéns!

    Adorei isso: "O cheiro da paisagem carrega mais cor que o horizonte pintado na tela."

    Sigo-te!

    Beijos
    Patrícia Lara

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