quarta-feira, 23 de junho de 2010

Entre quatro paredes

 
Acendeu o cigarro. Deu dois tragos seguidos e antes que a fumaça 
saísse de seus pulmões bebeu o vinho barato comprado na venda
da esquina. A taça, que sustentava o líquido vermelho-sangue, era
uma herança da tia rica que deixara como recordação daqueles 
velhos tempos de boêmia e madrugadas alcoólicas. Cigarro ainda
queimando na boca do indivíduo. O quarto escuro, vazio e envolto
em fumaça era o cenário decadente e cada vez mais constante. 
Apenas a cadeira e a mesa de elementos fixos e imutáveis naquela
maloca. A madrugada era uma verdadeira tortura. Os maços de
cigarro se multiplicavam sobre a mesa. O vinho, que era pouco, 
deu lugar à cachaça do último aniversário. Vizinhos sequer sabiam
o que ocorria naquele local sombrio e esfumaçado. Apenas sabia-se
que o indivíduo lá dentro usava como fuga ou passatempo os dois
tragos. O odor de seu suor de pinga e tabaco exalava pelas paredes
afora. Até que chega a convidada da noite, sem pedir licença
ou permissão para entrar, simplesmente atendendo um antigo convite
do homem de aparência cansada (da vida ou da espera) sentado
à mesa. Na manhã seguinte não existia mais nada, exceto as cinzas
e as bitucas no chão, a taça de vinho quebrada e o cheiro impregnado
nas quatro paredes do quarto.

Por Rene Serafim - "Juninho"

4 comentários:

  1. por entre cacos e cinzas pairavam as bocas amargas e os olhares perdidos.

    por entre quatro paredes, tantos desejos!

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  2. No rancor de uma saída ficam as marcas da noite doída. Abs meu caro!

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  3. Muito, muitooo bom. Parabéns.

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  4. encantadoramente... pertubadora...
    bjox e parabens...

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