quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Versos de Barros


Poeta, s.m. e f.
Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu
Espécie de vazadouro para contradições
Sabiá com trevas
Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como um rosto.

(Arranjos para Assobio, 1982. Manoel de Barros)


Em versos transnominados escritos em rastos de lesmas
fico em estado de árvore quando vos leio
Apalpo as intimidades do mundo como o sapo (de barriga pro chão)
lambe a mosca no rasgo do dia

Agora em estado de pedra vejo o canto amarelo
e verde do passarinho vestido de luz
E o silêncio líquido que corre entre
dois jacintos escurece-me de poesia

A poesia? Não serve de nada
se não for para ser incorporada
Tenho profundidades em não saber quase tudo
sem saber que não sei nada

A água que corre nesse riacho
passou em forma de pássaro
no céu rubro da noite anunciada

E o cu da formiga virou-se para o mundo
e mostrou que as borboletas de tarjas vermelhas
quando em túmulos são mais bonitas

Nesse inutensílio que é a poesia
sou professor de agramática
e fazedor de significados que não existem

Melhor: dou ressignificações a palavras
que têm suas bundas viradas para o chão

Coloco cheiro e cor
onde só existia palavra

E como o esplendor da manhã
meus versos também não se abrem com faca

Por Rene Serafim - "Juninho"

3 comentários:

  1. Eu preciso mesmo bater palmas? Eu bato as asas

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  2. Forte, muito expressivo. Adorei! Te deixo uns versos meus:


    Tu casulo,
    eu já borboleta,
    quisera ser lagarta
    para qualquer pássaro
    devorar-me inteira.

    esmaques pra ti!


    Marisete Zanon

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