Acendeu o cigarro. Deu dois tragos seguidos e antes que a fumaça
saísse de seus pulmões bebeu o vinho barato comprado na venda
da esquina. A taça, que sustentava o líquido vermelho-sangue, era
uma herança da tia rica que deixara como recordação daqueles
velhos tempos de boêmia e madrugadas alcoólicas. Cigarro ainda
queimando na boca do indivíduo. O quarto escuro, vazio e envolto
em fumaça era o cenário decadente e cada vez mais constante.
Apenas a cadeira e a mesa de elementos fixos e imutáveis naquela
maloca. A madrugada era uma verdadeira tortura. Os maços de
cigarro se multiplicavam sobre a mesa. O vinho, que era pouco,
deu lugar à cachaça do último aniversário. Vizinhos sequer sabiam
o que ocorria naquele local sombrio e esfumaçado. Apenas sabia-se
que o indivíduo lá dentro usava como fuga ou passatempo os dois
tragos. O odor de seu suor de pinga e tabaco exalava pelas paredes
afora. Até que chega a convidada da noite, sem pedir licença
ou permissão para entrar, simplesmente atendendo um antigo convite
do homem de aparência cansada (da vida ou da espera) sentado
à mesa. Na manhã seguinte não existia mais nada, exceto as cinzas
e as bitucas no chão, a taça de vinho quebrada e o cheiro impregnado
nas quatro paredes do quarto.
Por Rene Serafim - "Juninho"
por entre cacos e cinzas pairavam as bocas amargas e os olhares perdidos.
ResponderExcluirpor entre quatro paredes, tantos desejos!
No rancor de uma saída ficam as marcas da noite doída. Abs meu caro!
ResponderExcluirMuito, muitooo bom. Parabéns.
ResponderExcluirencantadoramente... pertubadora...
ResponderExcluirbjox e parabens...