quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cubo de gelo

Gélida madrugada vazia
onde as horas teimam em não passar
ou querem mostrar
que são as donas do tempo.

E como um vassalo
obedeço o senhor do tempo ao consentir
essa espera crua e silenciosa.

No limite
que separa sensatez e loucura
está o lirismo.

E é nesse pequeno espaço on(l)írico
que me refugio
da solidão.

Absorvo em meus poros
o suor lírico e líquido
e exalo a poesia ácida
que por ora te evapora.

Por Rene Serafim

domingo, 25 de outubro de 2009

Poemeto-Cárstico

Palavras calcárias
formando estalactites poéticas.
Na minha caverna de versos
pinga e forma a rocha do verbo.

Na escuridão e silêncio
ouço o eco.
O som pouco a pouco
me consome.

Bebo das águas das letras
dos pronomes e adjetivos.
Subjetivo.
Urino meus versos.

Por Rene Serafim - "Juninho"

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Uma poesia

Uma poesia às putas abandonadas
rejeitadas pela própria vida
pelo próprio ego.

Uma poesia aos andarilhos
rejeitados pelo próprio caminho
pelo próprio destino.

Uma poesia aos meninos de rua
rejeitados pela própria família
pelo próprio ser.

Uma poesia aos famintos
rejeitados pelo próprio parco corpo
pelo próprio estômago.

Uma poesia
nua
crua
repetitiva
vermelho-sangue.

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Além do elo II

Quero dividir o meu silêncio líquido
Colocar sobre a mesa o baralho
Sem cartas marcadas
Embriagar os meus sentimentos
Deixar o mundo perceber o sentido
Reviver cada momento passado
Protegê-lo das falácias
Tocar um samba malandro
Romper o paradigma familiar
Ultrapassar as barreiras da obrigação
Simplesmente querer o prazer.

No dedilhar da poesia
Emitir sonoridade
Verdadeira
Interpessoal
Aberta
Estridente.

E no final
Eu quero querer
Voar como um pássaro
E em tom maior
Cantar para seus ouvidos
A melodia destes versos.

Por Rene Serafim - "Juninho"

P.S.: Um quase plágio e resposta a esta postagem: http://bibiserafim.blogspot.com/2009/08/alem-do-elo.html

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sente-se

ouça o silêncio
destes versos sombrios
escuros

sem forma
e sem rimas

sem alegria

sem o cheiro
da saudade

me invade
harmonia

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Expresso

Agora
eu escrevo
na tentativa inútil de expressar
o meu sentimento

é inútil
porque o momento
que deveria
ter sido expresso (como o trem)
já passou
e só me resta a poesia

talvez a única forma que
externalizo-me por completo

não fosse ela
a poesia
estaria agora engasgado
sufocado
talvez morto
ou vivo

mergulhado nos versos
submerso em meu universo
penso
e fico.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 4 de outubro de 2009

Mediterrâneo

uma dose dessa overdose
intravenosa e ácida
e os barcos fazem o levante

o vento sopra a favor
e eu vou navegando
nesse mar sem fim

quando abro meu abraço
congelo-me nesse apogeu
que me derrete por completo

na tempestade tropical
cerco-me
esvaeço-me

mas o sol aparece
e com o calor
me aquece

Por Rene Serafim - "Juninho"